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Segundo o instituto, o mapeamento nessas quatro metrópoles, que abrangem Sudeste, Nordeste e Norte do paĂs, possibilita identificar padrões comuns e especificidades regionais no uso da força letal pelo Estado. Além disso, é possĂvel compreender a dimensão dos conflitos entre grupos armados no cotidiano de grandes centros urbanos.
"A violĂȘncia armada segue como um grande desafio. Os impactos são devastadores, especialmente para crianças, adolescentes e comunidades vulnerĂĄveis. A flexibilização do acesso a armas de fogo, sem o acompanhamento dos mecanismos de fiscalização, combinada com uma polĂtica de segurança pĂșblica centrada no confronto, tem contribuĂdo para a manutenção deste ciclo de violĂȘncia, algo que não é novidade, mas que vem aparecendo a cada novo relatório anual", analisa CecĂlia Olliveira, diretora-executiva do Instituto Fogo Cruzado.
Os dados do estudo reforçam o argumento. Entre 2017 e 2023, houve aumento de 227% no nĂșmero de armas registradas. No total, hĂĄ cerca de 4,8 milhões de armas em posse da população civil.
Outro dado preocupante é o de pessoas que morreram em confrontos com agentes de segurança: entre 2015 e 2024, foram 51 mil pessoas.
O Rio de Janeiro registrou 2.532 ocorrĂȘncias de disparos de arma de fogo ao longo de 2024, com uma média de sete tiroteios diĂĄrios na região metropolitana. Esse é o menor Ăndice contabilizado pelo instituto desde 2017, no inĂcio da série histórica. O pico foi em 2018, com 9.633 registros.
Apesar da redução, 2024 teve a maior proporção de tiroteios policiais jĂĄ registrada, sendo 36% relacionados a operações policiais. Foram afetadas 1.968 unidades de ensino e 1.136 unidades de saĂșde. Também houve recorde no nĂșmero de crianças baleadas no ano passado. Foram 26 jovens até 11 anos de idade baleados, maior Ăndice da série histórica.
Na região metropolitana do Recife, houve queda de 1.827 tiroteios em 2023 para 1.748 em 2024, redução de 4%. Mesmo assim, o nĂșmero de registros em 2024 é o segundo maior da série histórica.
Segundo o Fogo Cruzado, Pernambuco tem os Ăndices mais preocupantes de violĂȘncia do estudo, com 97% dos disparos ocorridos na região metropolitana resultando em vĂtimas, o maior Ăndice em todos os estados mapeados pelo instituto.
Em 2024, o nĂșmero de crianças e adolescentes baleados atingiu recorde, com 147 baleados, resultando em 101 mortes. Desde 2019, jĂĄ são 735 casos de jovens até 17 anos de idade baleados.
Na região metropolitana de Salvador, os nĂșmeros tiveram pequena redução de 0,4% em comparação a 2023. Foram 1.795 ocorrĂȘncias de disparos de arma de fogo em 2024, contra 1.804 no ano anterior. Em média, a Bahia registrou cinco tiroteios diĂĄrios na região metropolitana, com 38% dos confrontos originados em ações policiais. No ano anterior, essa proporção foi de 36,5%.
Em 2024 foram registradas 27 registradas chacinas, resultando na morte de 92 civis. Em 2023, foram 48 chacinas, com 190 mortos. Em 2024, 59% das chacinas aconteceram em ações policiais. Em 2023, a taxa foi de 69%. A polĂcia ainda é responsĂĄvel por mais da metade das chacinas ocorridas na região.
No ParĂĄ, foram 694 tiroteios registrados na região metropolitana de Belém, sendo que 42% ocorreram durante ações policiais. É o maior Ăndice entre os quatro estados monitorados, superando Rio de Janeiro (36%) e Bahia (38%).
Dos 686 baleados em 2024, 96 vĂtimas foram atingidas em ataques armados e somente duas pessoas ficaram feridas por balas perdidas.
Diante dos nĂșmeros preocupantes da violĂȘncia armada, a diretora do Fogo Cruzado defende a urgĂȘncia de polĂticas pĂșblicas coordenadas e baseadas em evidĂȘncias.
"HĂĄ 8 anos apresentamos nĂșmeros que traduzem a dor das famĂlias e o medo do cidadão. HĂĄ 8 anos vemos mais do mesmo nas polĂticas pĂșblicas de segurança. É preciso pensar em estratégias com metas claras, planejadas a partir dos dados produzidos pelo poder pĂșblico e sociedade civil, com atenção especial para a fiscalização, o controle de armas e a reformulação das estratégias de enfrentamento, que precisam ser calcadas em evidĂȘncias e inteligĂȘncia. A violĂȘncia é hoje a maior preocupação do brasileiro, superando saĂșde e educação", defende.