De acordo com a entidade, a decisão foi tomada em razão de "recentes mudanças altamente preocupantes" nas caracterĂsticas clĂnicas e epidemiológicas da doença, incluindo o registro de casos em localidades fora das chamadas regiões endĂȘmicas.
Outros fatores levados em consideração para a publicação do alerta de nĂvel alto são as duas mortes por febre do Oropouche confirmadas no interior de São Paulo e a identificação de uma potencial transmissão vertical do vĂrus (da mãe para o bebĂȘ durante a gestação ou parto). A Opas monitora ainda óbitos fetais e casos de recém-nascidos com anencefalia que podem estar relacionados à infecção."Reconhecendo que essas observações ainda se encontram em fases iniciais de investigação e que a verdadeira trajetória da doença ainda é desconhecida, o nĂvel de risco para a região foi ampliado para alto", destacou a entidade.
"Tudo isso baseado nas informações atuais e disponĂveis, com um nĂvel moderado de confiança e com bastante cautela", completou a Opas.
De acordo com o documento, os critérios considerados para atualizar o nĂvel de risco regional para a febre do Oropouche incluem risco potencial para a saĂșde humana. A apresentação clĂnica do vĂrus na maioria dos casos varia de leve a moderada com sintomas autolimitados que, geralmente se resolvem em sete dias. Apesar das complicações serem raras, casos esporĂĄdicos de meningite séptica foram documentados. Mais recentemente, dois casos de mortes associadas ao vĂrus foram deportadas no Brasil em meio a um surto da doença no paĂs. Essas mortes respondem pelos primeiros casos fatais associados à doença no mundo.
Para a decisão, a organização também considerou a transmissão vertical do vĂrus, que estĂĄ sob investigação. No dia 12 de julho, o Brasil informou a Opas sobre potenciais casos de transmissão vertical da febre do Oropouche e suas consequĂȘncias. No dia 30 de julho, cinco potenciais casos de transmissão vertical do vĂrus haviam sido reportados no Brasil, incluindo quatro casos de morte fetal e um caso de aborto espontâneo no estado de Pernambuco, além de quatro casos de recém-nascidos com microcefalia nos estados do Acre e do ParĂĄ. As investigações estão em andamento.
A Opas também lista o risco de propagação da doença, contextualizando que, entre 1° de janeiro e 30 de julho de 2024, 8.078 casos confirmados haviam sido reportados em pelo menos cinco paĂses das Américas, incluindo BolĂvia (356 casos), Brasil (7.284 casos), Colômbia (74 casos), Cuba (74 casos) e Peru (290 casos). No Brasil, 76% dos casos foram registrados na Amazônia.
De acordo com a Opas, pelo menos 10 estados brasileiros fora da região amazônica jĂĄ confirmaram transmissão autóctone ou local da febre do Oropouche, alguns de forma inédita para a doença. "Essa informação sugere que, no Ășltimo trimestre, casos foram reportados em novas ĂĄreas e em novos paĂses, sinalizando a expansão do vĂrus pelas América".
"Desde a sua identificação, em 1955, o vĂrus causou surtos em diversos paĂses da América do Sul e da região amazônica, em grande parte por conta do vetor Culicoides paraensis, do potencial vetor Culex e seus hospedeiros, como preguiças e primatas."
"O risco de propagação de vetores e, consequentemente, da transmissão da febre do Oropouche estĂĄ aumentando em razão das mudanças climĂĄticas, do desmatamento, da urbanização descontrolada e não planejada e de outras atividades humanas que afetam o habitat e favorecem a intervalos entre vetor e hospedeiro. Até o momento, não hĂĄ evidĂȘncia de transmissão do vĂrus entre humanos", concluiu a Opas.