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Acordo de Assange é ruim para liberdade de imprensa, diz autora de livro sobre WikiLeaks

LUCAS MONTEIROSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, deixou a prisão em 24 de junho, considerado culpado pela disseminação ilegal de material que supostamente colocou em risco a segurança nacional dos Estados Unidos.

Por Brasil 27 04/07/2024 às 16:06:25

LUCAS MONTEIRO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, deixou a prisão em 24 de junho, considerado culpado pela disseminação ilegal de material que supostamente colocou em risco a segurança nacional dos Estados Unidos. Mas para a jornalista Natalia Viana, o acordo pela soltura do ativista é ruim para a liberdade de imprensa.

"O governo Joe Biden entrarĂĄ na história por obrigar uma pessoa a reconhecer culpa por um trabalho jornalĂ­stico usando a lei de espionagem contra o vazador. Ou seja, a notĂ­cia é boa em termos humanitĂĄrios, mas é muito ruim em termos de liberdade de imprensa", diz.

Viana é uma das fundadoras da AgĂȘncia PĂșblica e autora de "O Vazamento", livro que serĂĄ lançado pela editora Fósforo e que conta os bastidores das revelações feitas pelo WikiLeaks e a participação dela no caso.

A jornalista foi a Ășnica brasileira a estar na mansão do WikiLeaks em 2010, na cidade britânica de Norfolk, relatando os documentos vazados sobre o Brasil. Passou dez anos escrevendo o livro. "Demorei para finalizar a ideia desse livro, muito aficionada naquela visão de que nós, do jornalismo, não devemos ser notĂ­cia."

O perĂ­odo na Inglaterra é um dos pontos centrais da obra. Viana conta sobre as paranoias de todos na casa e o medo de serem espionados: toda a equipe usava computadores sem acesso à internet. As baterias dos celulares eram removidas, por orientação de Assange.

Escrito em primeira pessoa, o livro narra o convite a Viana para integrar a equipe do WikiLeaks, suas conversas com Assange, o impacto das publicações e suas angĂșstias sobre o material que estava divulgando.
"Demorou muito para eu entender que esse livro não era sobre o Assange ou sobre o WikiLeaks, mas sobre mim: como uma jovem jornalista brasileira entrou no maior furo da história."

Apesar disso, o foco na figura de Assange é inevitĂĄvel. A autora conta que ele é uma pessoa fissurada na própria imagem e duro no trato. "Julian estava vidrado nas notĂ­cias que corriam sem parar e pesquisava o próprio nome, obsessivo", relata ela na obra.

O material revelado pelo WikiLeaks inclui informações sobre a atividade militar dos EUA no Iraque e no Afeganistão, além de telegramas confidenciais compartilhados entre diplomatas.

Durante a campanha de 2016, o grupo ainda divulgou milhares de emails roubados do ComitĂȘ Nacional Democrata, levando a revelações que constrangeram o partido e a campanha de Hillary Clinton à PresidĂȘncia dos EUA.

As histórias sobre o Brasil diziam respeito à proximidade do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, chamado de "atipicamente militante" em prol dos americanos, além do interesse dos EUA na segurança da Copa do Mundo e das OlimpĂ­adas e na descoberta do pré-sal.

A divulgação ao longo dos anos foi feita em parceria com outros veĂ­culos, como a Folha de S.Paulo, além de jornais internacionais. No Brasil, Viana foi a responsĂĄvel por firmar esses laços.

A publicação de material vazado ainda gera discussões na imprensa sobre a relevância do conteĂșdo. Os casos Snowden e Vaza Jato, por exemplo, são baseados em documentação e conversas vazadas. Mas Viana considera que essa é uma questão pacificada.

"A atuação na Vaza Jato foi bastante inspirada pelo WikiLeaks. O [site jornalĂ­stico The] Intercept recebeu documentos e chamou outros veĂ­culos para participarem. Isso foi um modelo inventado pelo Assange, e a Vaza Jato teve impacto polĂ­tico e judicial muito relevante."

O livro estava programado para agosto, mas foi adiantado pela editora por causa do noticiĂĄrio sobre Assange e jĂĄ estĂĄ disponĂ­vel na Feira do Livro que ocorre na praça Charles Miller, em São Paulo. HĂĄ eventos de lançamento agendados para o dia 11, no Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e no próximo dia 10 de agosto, na livraria Megafauna, com a jornalista Renata Lo Prete.

Questionada se pretende se encontrar com Assange a partir de agora, Viana diz que não conversa com ele hĂĄ dez anos. "Mas tenho contato ainda com as pessoas do WikiLeaks, tenho afeto, carinho e acho que passados os primeiros meses [de sua libertação], tentarei revĂȘ-lo."

O VAZAMENTO
- Preço R$ 89,90 (344 pĂĄgs.); R$ 62,90 (ebook)
- Autoria Natalia Viana
- Editora Fósforo

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